A decisão


Tinha que tomar uma decisão: apertar o botão ou não?
O tempo passava e não me conseguia decidir. A decisão era de responsabilidade. As consequências poderiam ser nefastas ou benfazejas, mas eram futuras e ao tentar adivinhar quais as que prevaleceriam, não encontrava resposta.
Pesava sobre mim um imenso fardo, que cada vez me encurvava mais, deixando-me com dores nas costas e os ombros aflitos, quase em arco até ao chão.
Por algumas vezes estiquei o dedo, convencido de que tinha tomado a decisão certa e irrevogável. Mas no último momento arrependi-me e recuei. Tentei ignorar o assunto, mas a necessidade de fazer ou não fazer algo sempre regressava como um tormento ou uma maldição.
Sabe-se que a melhor forma para uma decisão consciente é deixar o tempo passar. Isso alivia e solidifica todas as decisões mesmo, quando  estarmos a pensar nelas, em permanência. Poderia, um dia, se assim quisesse “voltar atrás” e reverter a decisão a tomar, seja ela qual fosse? É provável que não!
Uma decisão uma vez tomada segue o seu curso e mesmo que se reconstrua todo o que foi destruído, será outra coisa que nasce daí, nunca o que hoje é, e nada ficará igual.
Amores antigos, familiares que já faleceram, situações vividas, negócios realizados ou pensados, nenhum botão – alavanca ou interruptor que liga e desliga – faz o que passou regressar, mas também não constrói, inevitavelmente, coisas boas. Pode accionar o caos e a destruição ampliando o que julgávamos curado e ultrapassado, como uma doença que regressa, depois de meses de tratamento, quando já tinhamos a certeza de a ter vencido.
Basta-me um simples aproximar do dedo indicador, e pressionar levemente ou ignorar os conselhos, as indicações e a tentação e esquecer. Sim, esquecer seria uma boa solução.

Abro o teclado do tablet e procuro a página correcta. Sem hesitar carrego na tecla escolhida e abre-se a tal circunferência que simboliza um botão e sem pensar, de novo, ou melhor, ou ter tempo para recuar...primo o screen. A mensagem aparece-me clara: adicionar amigo.
Está feito. Resta-me aguardar as consequências.

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