A entrevista



P- Os pobres não têm dinheiro?
R- È capaz de ser verdade... Os Tribunais é que têm uma noção errada do que é bem ou mal. Quem não tem dinheiro vai preso que é uma forma de viver descansado, com tudo pago. Não ter dinheiro é um crime de lesa-humanidade. deveria estar consagrado, naquela coisa...como é que chama...Conceição, é isso!

P- Já foi preso?
R-  Vou muitas vezes a Espanha e a Paris.

P- O que é que vai fazer a Paris?
R- Beber uma cerveja.

P- E a Espanha?
R- Outra. É mais barato que em Portugal e ainda oferecem umas tapas para acompanhar.

P- Lê muito?
R- Só os horóscopos. Se for bom, está decidido, não é preciso fazer nada, se for mau é estar quieto e esperar que  passe.

P- Porque é que escreve?
R- Eu não escrevo, peço para me escreverem. Eu dito o texto e depois leio e fico todo contente. Muitas vezes concluo: o tipo que escreveu isto deve ser um gajo porreiro.

P- É a favor dos gajos porreiros?
R- Sim. Sim. Desde que tenham boa imagem.

P- Acha que há vida para além da morte?
R- Não tenho dúvidas. É uma vida pacata e sossegada, mas muito reciclada, com constantes volúpias e gestos épicos. A História é isso mesmo: a vida depois da morte.

P- Como é que ganha a vida?
R- Olhe para já estamos empatados, mas é fundamentalmente no jogo. Faço pólo aquático e cross selling mas os meus banqueiros é que tratam disso, não estou para me chatear.

P- Por falar em empate, gosta de futebol?
R- Claro. É viciante. No futebol, como nas ciências, na matemática ou na ecologia somos uns campeões, embora por vezes o árbitro…

P- Ok.Ok. Já percebi que não vai responder?
R- Quem eu? Estou aqui é para colaborar.

P- Porque é que não edita?
R- Não quero construir uma nova Igreja. Os seguidores aborrecem-me. E depois ainda eram os outros a tirar proveito dos meus escritos? Olhe, Jesus Cristo não escreveu nada e no entanto…

P- No entanto o quê?
R- Nada. Nada. Até pode ser que tenha razão devia mandar fazer um documentário com as ideias do momento, mas depois houve-se cada disparate, e o orçamento é tão grande … e tem de se pagar tantos subornos, que desisto. Prefiro a pacatez rural. As cidades já deram o que tinham a dar.

P- Deram o quê?
R- Confusão. Agora é tempo de marear. Sabe aqueles dias todos à beira da piscina…

P- E isso não é chato?
R- Depende. Quando o barco afunda até é divertido.

P- Diverte-se com a desgraça dos outros?
R- Confesso que por vezes  é divertido. Serve para passar o tempo.

P- Há um Tempo?
R- Certamente que sim. Chego sempre a horas. Nunca me atraso num compromisso.

P- Isso faz de si mais novo ou mais velho?
R- Ambas as coisas. Os tempos são de mistificação, de segredos, de revelações.

P- Quer dizer que há tempo para tudo?
R- Claro. É uma questão de organização Há coisas que demoram muito tempo.

P- Tais como?
R- As pessoas deste País. Vivem aqui há tanto tempo que já perderam a noção de quem são, do que fazem aqui. Habituaram-se.

P- O tempo esgota-se?
R- Não! Ainda vamos a tempo. Temos muito tempo.

P- O tempo é uma obsessão?
R- Quando chove sim, outras vezes não. Felizmente faz muito sol em Portugal e a obsessão são as praias, o bronze e claro…falar do tempo.

P- Tem outras obsessões?
R- Claro. Com os medicamentos. Os portugueses gostam muito de medicamentos. Fazem colecção. Falam das idas ao médico e ao analista, com os amigos. A doença é um tema de cultura e de relação social muito interessante em Portugal.

P- E que mais?
R- Depois vem a gastronomia. Ter a mesa farta é uma preocupação. Comer, beber muito. É o tempo dos insaciáveis. Uma reminiscência dos abades.

P- E isso é louvável?
R- Claro, como ter o carro de último modelo, vestir roupas de marca, ir ao cabeleireiro, fazer ginástica, ver televisão. O português é muito orgulhoso da sua identidade, tanto que a perde em qualquer esquina, mas a recupera facilmente com uma ida ao supermercado. Os gadgets são a última peregrinação.

P- Isso faz dos portugueses melhores?
R- Nem melhores nem piores. São um povozinho, muito mesquinho, muito avarento, muito ciumento e cínico. Disfarça-se com “bons costumes” mas é muito truculento. Gosta de falar alto e de ser ouvido. Quando chega a hora de trabalhar mete baixa. Fica em casa ...confinado (disse uma piada, reparou?)

P- Mas não serão todos assim?
R- Claro que não. É um disfarce. Todos têm livros do “Circulo de Leitores” em casa. Ouvem muita musica, vão ópera, a exposições, compram ecrãs digitais que espalham pela casa, lêem jornais e adoram a net e os telemóveis. São uns fala barato, porque dinheiro não há, mas em prestações e dividas, lá vão sobrevivendo com conforto e descrição.
( se ler isto daqui a vinte anos, vai verificar que continua a ser verdade)

P- Isso quer dizer o quê?
R- Que os portugueses são dos povos mais antigos e evoluídos da Europa. Descobriram que sem trabalho se consegue tudo. Até o amor.

P- O amor?
R- Sim. As raparigas e os rapazes ainda não acabaram a escolaridade obrigatória e já engravidaram. Uns com a seta para cima, os outros com a cruz para baixo. São exímios em viver de papo para o ar, de perna aberta, se quiser. (e isto é Gil Vicente a falar, escreva aí) O amor é outra vertente fundamental para o espírito lusitano. Desde Viriato que somos nós a povoar o Mundo.

P- Vai a correr para algum lado?
R- Não. Aliás foi por causa disso que deixei de andar em transportes públicos.

P- A que horas se deita?
R- Nisso sou como os alentejanos. Logo depois do levantar, sabe, acordo, quase sempre, muito cansado.

P- E levanta-se à hora de deitar?

R- Nem sempre Por vezes, muitas vezes, gosto de lhe trocar as voltas. Só para saborear uns pezinhos de porco de coentrada é que era capaz de não me deitar .Já experimentei comer na cama, mas não dá gozo nenhum. Prefiro encher o teclado do computador com migalhas e molho de escabeche.

E esta foi a entrevista possível. Sejam felizes voltamos na próxima semana com mais entrevistas paranóicas., neste programa paranormal para pessoas com sanidade comprovada.


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