Serial Killer (narrativa)



Um conjunto de misteriosos crimes, foram acontecendo, naquele ano de 2020, sem que ninguém relacionasse os mesmos com qualquer facto anormal que pudesse ter dado origem à sequência de tragédias e desastres que todos os dias apareciam nas noticias.
Na prática, ninguém se preocupou em relacionar factos com situações e o desfolhar de crimes, tragédias e violência foi mais um reportório de coincidências sem explicação que se sucederam. Mas, um curioso investigador, de uma universidade privada em Lisboa, sabia que não era assim. Não podia ser assim.
De um momento para o outro, diariamente, quase ao minuto, no relógio do tempo dos acontecimentos, começou uma sequência de casos inusuais e malévolos, sem precedentes. Apresentados como espontâneos, estas situações foram se tornando virais, com influência nos comportamentos dos cidadãos e a sua insinuação prenunciava uma alteração de comportamentos que tinha de ser anotada.
Foi só, naquele dia, em que o Crew Dragon se elevou para o espaço que comecei a entender. Mas vamos aos factos:
Um casal de meia idade é assassinada pelas costas em Vila Real.  Um jovem mata a namorada, com a qual não tinha um relacionamento amoroso, mas uma obsessão doentia. Um rapaz afoga-se a tentar salvar um idoso, numa praia do sul. Crianças deixadas ao abandono por mães que se sentem impotentes e incompetentes para criarem os filhos. Idosos abandonados em lares clandestinos morrem com a pandemia do século que ainda nem acabou de dar os primeiros passos em direcção ao futuro. Um pai mata a filha com pancada e água quente. Um rapper é assaltado e morto com barras de ferro.
Depois o bizarro: um camionista morre ao cair num poço, tendo deixado o motor do camião a trabalhar, o radio ligado e a porta aberta. Tinha saído do  pesado para urinar e caiu num poço ocultado pela vegetação, já que era noite e não distinguiu o sitio onde andou? O que é que isto tem de bizarro? Nada! Nada! Só que é o único que não envolve terceiros, pois ter-se-á tratdo de um acidente.
O que é facto é que estamos na presença de um serial Killer disfarçado, concluiu José Ramalho.
A média diária era assustadora: 1,6 o que configurava um elevado grau de violência. A curva tinha começado devagar, mas em poucos dias acelerava. Quem é que foi morto hoje? Ainda ninguém assassinou ninguém, hoje? Estranho, deve estar a acontecer mas ainda não comunicaram ás autoridades era um sentimento que se generalizava.
Tinha de haver um padrão, um fio a ligar estes diversos, e aparentemente, desligados acontecimentos, já que a sua localização geográfica era dispersa do norte  a sul. Dir-se-ia que o acontecido nem era muito relevante, considerando o que se passa noutros países, pois, mas nós não somos “outros países” nem pela dimensão, nem pela densidade populacional.
Se não estavam relacionados – e nada faria supor que estivessem, até pela diversidade de casos, formas, meios e armas utilizadas: facas, paus, barras de ferro, pistolas, caçadeiras e estrangulamento por asfixia – também nada nos diziam que eram meras ocorrências próprias de uma sociedade que se agita.
Os crimes possuíam as motivações “normais” e próprias de todos os crimes: ciúme, vingança, desespero, ajuste de contas, roubo… mas eram perpetuados com uma frequência que há muito não constavam das estatísticas.
Poder-se-ia dizer que era por causa da divulgação do que se ia passando que gerava um fenómeno de imitação, concluíam alguns psicólogos…era justificação parecia a José Ramalho insuficiente e pobre do ponto de vista lógico e da esfera do bom-senso. Matava-se porque se via os outros matar? Porque as consequências, eram de prisão preventiva e de condenação a vinte anos de cadeia, que passam depressa, como alguns afirmavam?
José Ramalho foi para o terreno e mesmo antes de ter começado a pesquisar o que mais lhe chamou a atenção foi a total ausência de escrúpulos, completo sangue-frio e alheamento pelo praticado. Os autores dos crimes, eram pessoas normais, “boas pessoas” na definição de amigos e vizinhos, mas com total ausência de escrúpulos e prestativos, quer na ajuda ás autoridades, quer nas buscas que se realizavam até encontrar os cadáveres. Pareciam saídos de outro mundo, sem consciência dos actos praticados, dispostos a agradar.
Poderia ser este o padrão que unia os diversos assassinos?
A presunção de total ausência de consequências e impunidade era outra situação que pairava por ali. Um dos assassinos fugira para Inglaterra, mas regressara uma semana depois, como se nada se passasse. Estava imune. Foi detido no aeroporto à chegada. O que o fez pensar que não seria identificado e preso?
Os exemplos sucediam-se e repetiam-se. José Ramalho considerava tudo isto muito estranho….tal como estranho era o nome de uma das localidades onde havia dois mortos: avarenta!
Outra linha em comum era o facto de todos os criminosos, após a fase inicial de alheamento, nem inocentes, nem culpados, se terem entregue sem resistência e confessado de imediato os crimes. Mas que antes o tivessem negado. Havia ali um click, alguma coisa que mudava os comportamentos de um momento para o outro, sendo que alguns faziam tentativas mais ou menos encenadas para se suicidarem à posteriori. Não era bem arrependimento, nem confissão de culpa era mais uma desistência de alguma coisa, de algo, não se percebia o quê.
José Ramalho entrevistou vizinhos, amigos, pessoas próximas e outras que se quiseram juntar e manifestar opinião, e é claro, estas diligencias não acrescentaram nada ao que se sabia. Uns pediam vingança, outros achavam que a distancia entre besta e bestial era ínfima e nem se pronunciavam.
Horas dos crimes, locais dos mesmos, formas de actuação, motivo confesso, forma de dissimulação… alto, aqui havia uma outra constante quase uniforme: todos os cadáveres eram atirados para algum lado sem grandes preocupações em esconder as vitimas, dissimular sim, mas, em nenhum dos casos de maneira a que não fossem encontrados. Atirados ao rio, atirados para detrás de umas moitas, deixados no terreno agrícola onde estavam… era como se se libertassem de um fardo e depois não quisessem saber das consequências.
Não importava que viessem a ser descobertos, e quando isso acontecia, confessavam com inocência e ingenuidade o que fizeram e como fizeram, talvez até com orgulho e displicência, como coisa normal de que não se arrependiam e até se poderiam gabar.
De vez em quando, José Ramalho espreitava para as noticias. Quem seria morto hoje? Tardava. Teria a onda assassina terminado, como acontece nos serial killers? Descobrindo-se os culpados materiais, faltaria descobrir os culpados morais, instigatórios ou propagadores. Sim, esses escapariam sempre.
O Tribunal de Monsanto absolvia o presidente de um clube de futebol que mandara bater nos jogadores. Fora um equívoco. Uma erro de percepção mutua como o ministro das finanças explicava quando mudava o nome às coisas e afirmava que isto era aquilo que dizia ser e não o que os outros afirmavam que fosse, por comparação ou teimosia. A actual dgs era um acrónimo da antiga: uma da saúde, outra da segurança, afinal ambas tratavam da saúde aos portugueses. A primeira com porrada, a segunda com instruções de vida, que mudavam a cada vinte e quatro horas, criando estupefação e desorientação, que iam no caminho certo para uma possível resposta ao que estava a acontecer.
E o que é que estava a acontecer? As pessoas, algumas pessoas andavam a matar-se umas à s outras. José Ramalho constactava, sem surpresa, que o antigo director geral da saúde, fora reformado para  presidente de um hospital das forças armadas e que nessas novas funções de gestão, matava a qualidade dos serviços e a eficiência do mencionado Hospital. Tratava-se de uma assassinato, como outro qualquer. Porque é que não deixavam os reformados em paz, já não bastava o que passava nos lares e nos serviços sociais de apoio às famílias, violência doméstica e maus tratos a menores?
A grande desidério da sociedade que emergia, desta pandemia de “coisas” era o bem-estar animal. Nunca tantos se preocuparam com o bem-estar dos animais. E fazem muito bem. Nós os que não temos animais de estimação é que somos uma bestas. Mas estamo-nos a afastar das investigações de José Ramalho.
Em frente ao computador José Ramalho fazia simulações, compunha gráficos, analisava coincidências e observava as diversas curvas de tempo entre o acto praticado, a sua informação para as autoridades, o tempo de descoberta dos assassinos, a negação, a confissão…tudo numa paleta de factos que não podiam ser contestados ou ignorados, porque tinham acontecido e eram reais.
Mas, hoje, estando a nave espacial a chegar à estação orbital, situada a quatrocentos quilómetros da terra, nada acontecia. Era apenas 400 Km. Uma distancia ínfima se comparada com as distancias que se percorrem numa qualquer viagem aqui no planeta. E se…? E se,  Alguém na estação espacial estivesse a “puxar os cordelinhos”? Era possível! Haveria lá alguma mulher? As mulheres são especialistas em manipulação. Não, não havia.
Mas, que pensamento absurdo. As mulheres eram a melhor coisa do universo. Matava-se por causa de uma mulher, mas as mulheres eram deusas. Até havia um festival denominado “bona Bea” que apenas era constituído por mulheres. Daí até serem elas a causa dos crimes ia uma distancia maior do que da terra à estação espacial. Foi uma recaída na investigação – concluiu José Ramalho. Temos de ser sérios. E voltou a mergulhar nas suas reflexões.

(continua…e se não continuar é porque não se encontrou culpado)



Carlos Arinto

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