serial killer (segunda parte) narrativa



3.
Ao folhear o jornal, numa destas manhãs, deparei-me com um anúncio, que depois se repetiu nas redes sociais. Dizia isto:

Eu tenho um presente para ti. Não tem embrulho nem lacinho, mas é especial. Este presente não dá para veres, nem tocares, nem para cheirares…mas é verdadeiro. Este presente é o amor que tenho por ti. Minha mulher querida.
Aproveita bem, lembra-te que estarei sempre a teu lado para garantir o teu sorriso, a tua paz, e a tua alegria. Rodeia-te de tudo aquilo que te trás felicidade e grita, ao mundo inteiro, o quanto é bom ser feliz!
Amo-te e sempre te amarei do fundo do meu coração…!!

Estava encontrada a próxima vítima. Tal como os “famosos” – seja isso o que for – anunciavam nas revistas estarem apaixonados pelas mulheres, ou homens, da sua vida, para no momento seguinte proclamarem que se iam divorciar e depois (e já venderam três revistas) que estão apaixonados por uma outra ou outro qualquer. Aqui, era anunciada a morte da mulher pela técnica do lacinho. Era subtil. Quem assim jura, só pode estar prestes a quebrar a promessa.
Mas, o que seria este lacinho? E onde se acoitava a vítima?
O desfecho era previsível. O marido apaixonado para não ver a esposa sofrer haveria de a matar, garantindo-lhe a felicidade para sempre. “Grita ao mundo inteiro” uma vez que não deixaria de aparecer nas televisões e nas notícias.
Mas, quem garantia que a esposa estava a sofrer? Não, ela rejubila com a presença do esposo...pelo menos é o que o marido pensa. Então, toma lá o meu amor que é uma prenda que não passa pelos sentidos, mas tem remédio para todos os possíveis males da alma…porque é verdadeiro!
Tento localizar o autor do anúncio, mas não tenho sucesso no jornal, nem na rede social. Pode ser um perfil falso. Lembram-se que o anúncio da chegada da virgem Maria a Fátima, em 1917, também foi antecedido por um anúncio no jornal “o século”? Em que zona geográfica do país poderá estar o casal? O anúncio no jornal foi colocado em Lisboa, mas isso não quer dizer nada.
José Ramalho fica inquieto com este conhecimento. E se estiver enganado? E se tudo não passar de uma manifestação de amor, levada ao estremo de ser publicitada, apenas para felicidade dos envolvidos? Para ter uma opinião melhor era preciso conhecer os intervenientes, saber do seu passado, avaliar da sua situação presente e desenhar um futuro previsível em olhares, sorrisos, posição das cabeças e do corpo, que muitas vezes dizem mais do que queremos dizer.
Como isso não era possível, era só ficar atento, alguma coisa haveria de surgir. Ou não! E depois, quer num caso, como em outro, em que é que isto contribuía para a relação de causalidade e agregação dos crimes já perpetrados? José Ramalho já não sabia nada. Tinha sido uma estupidez ter-se metido nesta “camisa-de-onze-varas” que não o estava a levar a lado algum. Era tudo fruto da sua imaginação. O mundo corria como sempre correu, com novidades e casos inusitados porque não eram esperados. Apenas isso, só isso!

4.
Lá no espaço tudo corria com normalidade. Os astronautas passaram da capsula em que viajaram para a estação espacial que orbita a terra. Foram recebidos pelos três elementos que lá se encontravam e o mundo viu o encontro com entusiasmo e alegria. Vimos também as fotografias e vídeos da terra, observada do espaço. A turbulência serenou, embora no pais de origem da missão espacial os tumultos racistas e de pilhagem tivessem aumentado significativamente, por causa de um crime ocorrido por um polícia que asfixiou um negro, detido por ter passado um sinal de trânsito que estava vermelho. Um motivo fútil, para a acção executada.
Numa conversa casual com um amigo que vive nos estados Unidos fiquei a saber que uma determinada espécie de abelhas havia desaparecido da face da terra. Era apenas uma curiosidade, mas nunca tinha ouvido falar na abelha azul. Pelos vistos, eu e mais toda a gente, pois havia por ali uma qualquer confusão entre apareceu ou extinguiu-se. O primeiro está a chegar o segundo foi ultimo.
Esta abelha, chamada carpinteira-azul (osmia calaminthae) alimentam-se exclusivamente de flores de magnólia, que se encontram, apenas na Flórido, nos States. Pelo menos de acordo com a informação disponível. Nada existe, no mundo actual, apenas num local, tudo está disseminado e em todo o lado, por vezes ainda em forma incipiente, mas já infestante ou praga a despontar.
Ora, “todos sabemos” que a abelha é um insecto fundamental para a vida no planeta e que a mesma está a ser ameaçada de extinção, quer pelos fogos, pela desmatação do planeta e pelas alterações climáticas que se vão sucedendo, pelas monoculturas que eliminam a paleta de alimentos para a espécie. Há mesmo quem afirme que sem abelhas, a espécie humana perecerá.
E se, esta espécie azul, em vez de estar a desaparecer estivesse a começar e fosse uma transmutação? Uma migração da espécie tradicional, para outra coisa, qualquer, diferente, tal como tem acontecido com a praga das vespas asiáticas, desconhecidas até há bem pouco tempo? E se a sua existência, tomada de ânimo leve como uma espécie que não se conhece e que parece nem existir, estivesse em expansão e desenvolvimento e isso estivesse a afetar a vida no planeta?  Levando a que uma “onda de loucura” se disseminasse e os seres humanos se começassem a matar uns aos outros, por exemplo!? Tudo era possível. Sem abelhas o planeta morre, porque as flores deixam de ser fecundadas, e desaparecem os frutos e extinguem-se as sementes e a seca destruirá as raízes. E que venenos poderiam possuir uma espécie de abelhas com uma cor nunca vista, azul, que não produziam mel, nem cera, nem viviam em colmeias, como as outras abelhas? Sabe-se que as abelhas libertam vapores, pólen que sacodem e odores que espalham no ar, que navegam para os confins do mundo conhecido. Tal como as borboletas que quando batem asas na china, provocam terramotos e queda de viadutos em Portugal. Como aconteceu e foi explicado por engenheiros de engenharia.
Tudo eram hipóteses possíveis. Tão boas como outras quaisquer. Ao ser avistada, a abelha-carpinteira-azul havia desencadeado um conjunto de fenómenos que se materializaram nos crimes constatados. Ao voltar a desaparecer – isto é, ao deixar de ser vista, uma vez que é considerado um inseto “muito solitário” (querendo com isto dizer que nada sabemos sobre ele) – o ambiente tumultuoso que havia sido agitado voltou a estar apaziguado.
Era possível, pensava José Ramalho, pelo menos ao nível ao nível teórico. Era preciso provar a teoria, fazer experiências, comprovar e testar…Falou com investigadores e recorreu a matemáticos. Era possível. Reuniu com ecologistas e com virologistas, com cientistas da natureza e do comportamento da mente humana. Informou-se sobre químicos que podem influenciar a razão e drogas emanadas das abelhas como a apitoxina, e, claro, não chegou a nenhuma conclusão. Era preciso tempo, para ter alguma evidência que pudesse direcionar a investigação para a certeza. Para já encontrar, ou reencontrar a abelha azul, cujas feromonas se sentiam e eram percetíveis na atmosfera, numa análise efectuada por instituto credível, contudo cuja origem não era possível determinar, era urgente e necessário.
A primeira vez que algo de satisfatório foi descoberto, foi quando o cadáver de uma vítima, mostrava um insecto na sua decomposição. Pensaram os peritos tratar-se de uma mosca, ou dos habituais vermes e insectos comuns e habituais na decomposição dos cadáveres, até que alguém reparou que o dito insecto tinha a forma de uma abelha e era de cor azul.
Mas, repararam já tarde, pois tinham, alguém tinha, enxotado a mesma. Repararam porque as fotografias da necrose, feitas de imediato e antes de qualquer intervenção – mesmo que fosse para enxotar uma mosca ou uma abelha que andava por ali – tinha registado a sua presença.
Para onde teria voado? Comprovava-se a existência da abelha-azul. Até hoje quase um mito que chegava por via de investigadores estrangeiros, que apenas mostravam saber pouco sobre a mesma, embora tivessem levantado questões interessantes e curiosas. A abelha-carpinteira-azul estava em Portugal e matava utilizando uma arma diferente das suas congéneres: libertava uma feromona que levava os homens e as mulheres a se suicidarem ou a matarem-se uns aos outros. Estava encontrada a explicação para o surto que havia varrido a sociedade nos últimos tempos.
Existiria sozinha ou em colmeia e em grupo?  Como sempre acontece as ditas autoridades não tomaram em consideração os elementos compilados e não actuaram nem tomaram quaisquer medidas profiláticas. A situação até estava a abrandar a fixar "nos eixos". Um crime por dia, até era um bem que se fazia aos jornais e curiosidades populares sempre ávidas de tragédias.
José Ramalho fecho o caderno onde tomara as suas notas.



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