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A partir dos anos trinta, do século XXI, começaram-se a desenvolver diversos tipos de protecção individual, que antes não existiam. Foram denominados de “protecção profilática continuada”, mais conhecidos como ppc, que o pessoal gosta de siglas e não está para perder tempo com palavras difíceis.
A tendência já se vinha desenhando de muito antes, com o aparecimento do célebre preservativo, ou condom, na linguagem universal, mas agora assumia um caráter mais generalizado, especialmente depois de alguns sustos, como a pandemia do ano 20.
Em vez das máscaras medievais em forma de bico de pássaro, pensou-se em isolar o corpo todo. Criar um sistema imunológico global que funcionasse, sem prejudicar a saúde, mas adaptando-se ao crescimento, à renovação da pele e à vaidade.
Os orientais já usavam máscaras nas ventas desde à alguns anos, para se protegerem dos gases tóxicos da atmosfera, bem como em algumas cidades mais populosas, por isso era aconselhável e rentável que se evoluísse para uma protecção duradoira e continuada, sem a necessidade de andar a “pôr e tirar”.
A intervenção cirúrgica durava algumas horas, mas valia a pena. Depois do recobro e da recuperação, para a nova pele se adaptar às próteses, tudo corria bem, nascia o homem novo. Podia-se ir até para o atol de bikini, no pacífico, que as radiações não penetravam. Sim, na praia também se podia andar de bikini ou mesmo sem nada que as alforrecas, o peixe-agulha ou as pedras aguçadas do chão, não faziam estragos.
Um ramo de pesquisa do exército, associado aos serviços secretos, criou mesmo no Hospital Militar Nacional um sistema de protecção integral “à prova de bala”. Tinha sido testado com sucesso, embora ainda não certificado por não existirem conflitos que aferissem da validade real desta protecção ao longo de um tempo mais ou menos, útil e longo. Com o tempo poderia–se deteriorar, perdendo as características e as singularidades. Estava em fase de estudo e confirmação, com as necessárias adaptações e adições, como sempre acontece nestes casos. Os aperfeiçoamentos eram diários, e a patente da descoberta registada.
Mas voltemos ao comum dos mortais. Ter relações sexuais sem perigo de contágios, ter contacto com os outros seres, homem ou mulher sem o perigo do hiv, poder respirar sem perigo de ficar contaminado com um qualquer vírus e viver a vida como se vivia antigamente, sem medos, receios, embora as idas aos hospitais para medições, testes, acompanhamentos e pequenas cirurgias, já sem falar nas deteções de cancro, tensão alta, diabetes ou hemodiálises, que – infelizmente – continuavam a existir, tivessem de continuar a serem feitas.
Portanto, o Homem revestia-se de uma capa muito fina e transparente, folheada, com o cobria aderindo à pele, como um acetato, que podia ser descartado por gomos, ou simplesmente limpo, enxaguado e higienizado, como quando se toma banho e se esfrega bem o corpo com um sabão ou espuma de beleza. E claro, a partir daqui se desenvolveu toda uma industria para este sistema de combate e protecção às influências malignas do exterior, que tem tendência em penetrar no nosso organismo e fazer estragos.
Uma cirurgia normal, tem um prazo de utilização e validade de cinco anos. Depois disso é aconselhável voltar a revestir o sistema imunitário com nova aplicação. Cada camada de gel protetor pode ser lavado dez vezes, mais do que isso não é recomendável, tem de ser substituído. Para isso basta folhear, dos pés para a cabeça, assim como se “abre fácil” uma garrafa de cerveja. Simples. Se não quiser fazer isso sozinho, existem espaços de especialidade, que foram acrescentados aos cabeleireiros, manicuras e outros centros de estética e beleza, e também, aos primeiros e antigos centros de massagens (fossem eles capilares, de corpo inteiro ou simples relaxamentos de spa). Prostituição, portanto.
As mulheres continuaram a tomar a “pílula do dia seguinte”, e quando querem engravidar e terem filhos recorrem ao fornecimento de bancos de esperma, ou a espermatozóides congelados. Realmente, não percebo porque continuam a usar a “pílula”, mas deve ser por hábito. Os homens também ingerem comprimidos, que são placebos, porque está muito enraizada a tendência hipocondríaca, que ainda não se conseguiu expulsar do cérebro dos pacientes que insistem “doutor tenho aqui uma dor”. Trabalho para os psicólogos, psiquiatras e outros profissionais da saúde que lidam com a mente, incluindo curandeiros, santos e fazedores de milagres.
Estes conhecimentos que vos deixo, e anuncio, são uma notícia que recolhi, como vos disse, nos futuros anos trinta deste século. Depois não digam que não vos avisei. Antes de um qualquer grande acontecimento, com repercussões para a humanidade, há sempre um anúncio. Foi assim em todos os momentos, de Nostradamus a Bandarra, passando por Orwell, Einstein e a sua relatividade ou Stephen  Hawking…  (ou capitão Kirk de uma série de televisão que prenunciava a conquista do espaço, antes do espaço ter sido conquistado)… tudo como sempre, num pequeno anuncio de jornal – aparições em Fátima – ou na tradição oral como a chegada de Jesus à cidade, no antigo testamento.
Antes de se saber, já se sabia, já tinha sido anunciado. Ler o futuro é fácil, basta ir lá espreitar. Stephen King.
(não sei se ele disse isto, ou não, mas poderia ter dito) se não disse, digo eu!

Carlos Arinto

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