No tempo dos absurdos
No tempo dos
absurdos
Hoje fui à rua passear
a minha próstata, e encontrei uma vizinha que andava a passear o seu cão. Não
sei qual a marca do seu cão (ó palerma, os cães não tem marca, possuem é raças
diferentes) que é uma “coisa” assim, estão a ver, pequenina, felpuda e muito
jovem. Como todos os jovens gosta de brincar, de saltar e de ladrar.
- Espero que os
latidos do meu “vírus chinês” (é o nome do cão) não incomodem. Disse-me.
- Não, não..nada.
Então este é que é a fera? Disse e perguntei.
Isto porque já alguns condóminos
se tinham queixado do barulho.
- Sim, um traquinas.
Andá cá “vírus chinês” está sossegado, cumprimenta o vizinho.
Recuei assustado, mais
por reflexo do que por medo do cão. Mesmo assim, estendi a mão para lhe fazer
uma festa. O cãozinho ladrou, saltitou em meu redor, deu dois pulinhos e depois
quis ir brincar com uns garotos que apareceram ao fundo da rua.
E eu sem máscara,
viseira ou levas de latex. (Tenho de ver se arranjo um tempinho para encomendar
o equipamento)
- Barulho naquele
prédio só do andar (elimino aqui a identificação do andar para poder apresentar
queixa na policia primeiro e falar com a tvi depois) onde se ouvem uns coices,
dia e noite.
- Será alguém
sequestrado? Pergunta-me.
- Também ouve? Quis saber.
- Sim, pensei que
fossem morcegos no sótão, fui lá ver mas não há vestígios de nenhum morcego.
- Pode ser aquele
bicho chinês que, dizem (portanto, tudo supostamente) que passou a peste para
as cobras e para os macacos.
- O pangolim?
- Sim, esse, o
pangolim. Sabe como algumas pessoas gostam de ter em casa bichos esquisitos.
- E o pangolim faz
barulho, assim tipo murros nas portas, rodas de skate, cabeçadas nas janelas? A
mim, parece-me um animal pacífico, quase um “preguiça”.
- Não sei, mas lá que
é estranho é. O seu “vírus chinês” comparado com aquele monstro que habita no
tal andar que não pode ser nomeado (como qualquer fã do Harry Potter sabe) é um
santinho, um querubim.
E cada um seguiu o seu
caminho…
Fiquei a pensar, hum
aqui há coisa! Eu quase apostaria que é o baphomet. Ou então os encarcerados da
ditadura do Salazar, que no forte de Peniche resistiam, uma vez que estamos a
comemorar o 25 de Abril e estes barulhos só se começaram a ouvir há poucos dias. Pode ser uma reminiscência. Pode! Se calhar mora lá um capitão de Abril e
ainda não libertou todos os prisioneiros, nunca se sabe. (eu não conheço, nunca
o vi, nem sei quem lá mora, só sei que aquilo causa estrondo e susto)
Alguém me disse que o
inquilino em questão era cientista, e neste caso, a confirmar-se, a ser
verdade, pode ter criado uma vacina (eu disse vacina, nada de confusões) e é
ele a domesticar a doença.
Sim, algumas doenças
são como cavalos bravos, saltam, escoicinham, pulam e andam de skate. Portanto
aquele barulho pode ser por uma boa causa.
(Sei que estão a pensar:
e então violência doméstica, não?)
Não! Na violência
doméstica as vitimas não gritam: O my god, sim, sim, faz mais! Portanto esta hipótese
está descartada. (qualquer psicólogo, especialista em especialidades lhes diz e
confirma)
Só me resta desejar
que esta pangolinada chegue ao fim. Que o vírus vá num cruzeiro (o verdadeiro,
não o cãozinho querido da minha vizinha) e que a economia se levante. Sim, o
primeiro ministro já comprou (na china
vejam lá, mas, como vem com as instruções em mandarim ficou tudo de quarentena
até se arranjar tradutor à altura) remédio santo (dizem que azul) para a sol-u-ção.
(substituir as letras que estão erradas, por outras à escolha do leitor – tem até
ao fim do mês para acertar – sol e praia, não, nem ben-u-ron, vá pense!)
Agora, esperamos a
segunda vaga e o recomeço da liga. O meu clube preferido há várias semanas que
não perde. (nem joga)
Nem tudo é mau.
Carlos Arinto
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