O canguru e o cachalote



Descobri que o meu vizinho tem em casa um canguru. Salta, salta e salta sem nunca acabar, de manhã, à tarde e à noite, com breves intervalos para descansar. Sim, também poderia ser um boneco, daqueles do anúncio que duram e duram e duram e quando todos já se aquietaram continua a funcionar, mas é um canguru, eu já espreitei e vi.
E porque é que não haveria ter um canguru em casa? Há alguma lei que o proíba? Não sei, eu não sou jurista nem tenho um código Penal à mão para saber…sei apenas que ele não me deixa descansado, pois pode - um dia – soltar-se e –quero ver – depois – quem o vai apanhar.
Instalei um posto de observação, da janela da minha varanda, com linha de tiro para casa do vizinho, desimpedida de obstáculos, e montei uma carabina de caça grossa. Acoitei-me por detrás da arma e ao fim de poucos minutos já tinha alvo para acertar.
Mas, o bicho deve ter sete vidas pois já lhe acertei seis vezes e continua a pular. Sim, como já desconfiaram a minha carabina é daquelas da feira popular (quando havia feira popular) que atira aos patos, aos pratos e aos bonecos que correm numa fiada de baloiço instável. Eu era lá capaz de matar o bichinho!?!
E o canguru lá vai demolindo a casa, hoje um bocadinho, amanhã outro até que tudo um dia, colapse.
Como sou bom vizinho, comecei já a fazer planos para contentar o meu vizinho, quando a casa desabar: vou-lhe oferecer um aquário com um cachalote. É o ideal. Basta passar a esfregona e limpar os salpicos que o mamífero sacode do aquário. Pensei em algo menos virulento, como uma couve ou uma alface, mas eu acho que o meu vizinho gosta de companhia que se comportem como metrônomos desafinados. O que contradiz o princípio e a base de um qualquer metrônomo que se preze. Por isso um cachalote vai-lhe assentar como uma luva. Não olho a despesas.
Se o cachalote o comer, assim tipo Moby Dick..olhe..azar! A minha intenção é que o criador seja igual à coisa criada e vice-versa, naquela lengalenga de que a paz é inimiga da tranquilidade e que só apreciamos verdadeiramente aquilo que não temos, como qualquer filósofo de trazer por casa vos explica após um curso rápido de confinamento saudável e pratica religiosa positiva.
O meu vizinho, às vezes sai em manada com o canguru para a rua. É fácil seguir as suas pegadas: galhos partidos, baldes entornados, rodeiras aqui e ali como buracos de dinossauros, algumas caganitas ( o meu curso de pisteiro ensinou-me a reconhecer e identificar tudo isto) bocados de pelo agarrados aos matos.
O cachalote já me confidenciou: “deixa-o comigo, espero que saiba nadar”…quero ver como isto vai acabar.
Alguma noticia ou a reportar? – Não senhor guarda, tudo normal!

Carlos Arinto

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