Homem descalço na neve

Homem descalço na neve

O sol veio raiar aquelas montanhas que estavam cobertas de neve. Contrariamente ao que alguns afirmam aquele bocado de terra estava isolada no mar, antes de se deslocar para junto de terra e a ela se acoplar. Foi um movimento lento e persistente. Ao chocar com o que hoje designamos por continente formou uma cadeia montanhosa, que hoje se designa por Pirenéus.
Meia dúzia de seres vivos mexiam-se por ali, semi-encobertos pela vegetação, confundindo-se com a neve e com os acidentes rochosos. Possuíam uma camada de pêlos que os protegiam do clima agreste, do vendo do mar e da agressividade do chão, com crostas nos pés.
Chão que se ergue rumo aos céus, depois de se ter enrugado, num processo complexo de cadeia multiplicadora. Primeiro se abaixando, depois eruptando com violência e trazendo rochas e minerais das profundezas para o cimo.
Havia “rios de gelo” que se precipitavam do cimo para os vales abrindo fossas imensas. Todo o cuidado era pouco. A manada que se movimentava mudava de sítio para se abrigar numa caverna posterior, onde alguns animais existiam e que serviriam para a sua alimentação durante algum tempo, até á sua extinção.
Numa outra fase desta evolução, aqui – cântaro do Covão da Ametade – houve cultura de trigo e assentamento humano e actividade de pastorícia,  mas, agora, nesta época recuada é apenas uma garganta. Ao longo do percurso existem blocos de rochas transportados pelos glaciares, que os viajantes contornam e evitam.
Abruptamente descobrem falhas em que existe água e vapor de água a temperaturas elevadas, e nessas pequenas bases cozinham pela primeira vez alimentos.
O que demonstra ser o chefe do grupo risca alguns traços numa parede onde se encosta, que depois cobre com um sedimento colorido que se expande a partir da pequena circunferência que o calor abre na neve.
As rochas mostram diáclases resultantes do arrefecimento e da descompressão do todo, permitindo a circulação do gelo transformado em água.
Aqui não há aventura nem epopeia. A vida é breve e selvagem.
Para Manteigas e para o vale do Zêzere, a serra continua magnifica, como um punho erguido ao cimo, ao alto, ao sempre.

Carlos Arinto

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