Teoria da conspiração

Teoria da conspiração

A nave flutuava no espaço em missão de procura de alimentos. Quem a observasse, pareceria estar parada, mas pura ilusão, deslocava-se a muitos milhares de quilómetros por hora, como poderíamos constacatar, se isso fosse possível de medir. Se aqui dizemos que eram quilómetros por hora é só por uma questão de compreensão, pois a velocidade daquela nave era estonteante e não mensurável para os nossos padrões de compreensão.
Seguiam-se outras naves mais pequenas e no todo formavam um esquadrão. Procuravam alimento. Era uma missão de descoberta de alimentos que escasseavam lá no sítio de onde vinham. A fechar o cortejo uma outra nave, mais bojuda e encorpada, era um cargueiro que já transportava muito do encontrado e pilhado em planetas exógenos.
A frota era comandada por um ser que se assemelhava a um deus ( ou a um qualquer personagem da “guerra das estrelas”, se a comparação vos agrada) e que tinha poderes que mais ninguém possuía em todo o universo.
Ao passar pelo sistema solar, onde a terra se encontra abrandaram para observar melhor. Aqui, no terceiro planeta a contar do sol, havia um formigueiro que não parava quieto, numa azáfama incansável. Foram recolhidas amostras.
Aquilo era verdadeiramente estonteante e não se descortinava objectivo de tanto peregrinar. Não recolhiam, nem açambarcavam, antes criavam desperdício e espalhavam dejetos e inutilidades por todo o lado, criando rastos de pegadas tóxicas. Mexiam-se como verdadeiros tolinhos!
Foi decidido fazer uma primeira recolha para análise.
Experimentou-se diversos processos de conservação, formas de cozinhar e apresentar o produto, depois de devidamente testado pelo recurso a provadores certificados, concluiu-se que era bom, agradável e muito saboroso. Talvez à vista não fosse famoso, mas tinha qualidade e existia em quantidade. Ele próprio se alimentava de outros seres, mais ou menos semelhantes e tudo aquilo parecia até divertido, se não fosse selvagem e absurdo, para os padrões e lógica dos que observavam, depois experimentaram e por fim concluíram.
Reuniu-se o conselho para delinear uma estratégia. Como se verificava que muitos eram magros e com pouca substância, tendo em linha de conta todos os aspetos económicos e de eficácia propagandística que a recolha iria ter na promoção da missão e dos seus dirigentes decidiu-se proceder como segue:

1. Espalhar um dose de um pequeno pulgão, quase invisível, mesmo ao microscópio, que se reproduz com facilidade ao penetrar no corpo das vítimas. Vitimas que se não tratadas, sucumbiam. Tinha de se sacrificar alguns para recolher depois o máximo possível dos sobreviventes. Se possível todos.
2. Com isso assustar, com uma campanha de informação e fazer parar a azáfama dos vais e vens. Todos confinados nas suas tocas ou túneis de grupo, como fazem as abelhas quando não andam á procura do mel, ou as formigas quando chove.
3. Como a psicologia explica, deixando aberta a cadeia de alimentação, estes seres tenderão a alimentar-se de manhã à noite, sem fazer outra coisa que não comer. Resultado vão ficar gordos e apetitosos. Eles próprios fazem isso com as galinhas, os galos e outros animais – colocam-nos num redil, quase uns em cima dos outros, sem se poderem mexer muito entre si, e o processo de engorda é rápido.
Chamam-lhes aviários, aquacultura ou viveiros e suiniculturas.
4. Depois é só recolher, conservar, embalar e guardar.

E assim se fez.
O processo foi rápido e a nave armazém ficou cheia com os mil milhões de seres apanhados nesta ratoeira. O planeta fiou limpo à excepção de dois ou três que sempre se escapam. A máquina sugadora funcionou em pleno.
O centro de controle e selecção dividiu os recolhidos em diversas classes e categorias, por cores e por tamanho. Curiosamente havia pequenas diferenças entre eles, quer no aspeto físico, quer nas camadas de casca, - folhas de cebola ou algo parecido – em que se embrulhavam. Cada um valeria o seu preço diferenciado e teria a sua utilidade, embora todos fossem para comer.
O comandante mandou regressar.

- Sim excelência, imediatamente.
O vice comandante confidenciou para o subalterno:
- Este homem é o diabo!

Carlos Arinto

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